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Mercado cogita Selic ainda mais alta

O cenário inflacionário do país já demandava cautela e indicava um desafio elevado para o Banco Central à frente. As preocupações dos participantes do mercado, porém, têm aumentado, na medida em que inflação acende sinais vermelhos, com caráter ainda mais persistente, ao mesmo tempo em que a autoridade monetária tem dado sinais de que o fim do ciclo de aperto está próximo. A deterioração do cenário continuou a se materializar nas projeções do mercado: a escalada das expectativas de inflação teve continuidade e um aumento da Selic além de junho entrou com força no debate.

Entre os dias 24 e 27 de maio, o Valor consultou 101 instituições financeiras e consultorias quanto às projeções de inflação e de taxa básica de juros neste ano e em 2023. Desde a última coleta, publicada em 12 de maio, a mediana de expectativas para o IPCA passou de 8,35% para 8,9% neste ano e de 4,2% para 4,5% em 2023. Em relação à Selic, a média e a mediana de estimativas se manteve em 13,25% no fim deste ano, mas aumentou de 9,5% para 9,63% no fim de 2023. A média aritmética simples de projeções para a Selic no fim deste ano também subiu, de 13,39% para 13,48%.

Com o juro básico em 12,75%, o BC contratou uma nova alta na Selic na reunião de junho, ao mesmo tempo em que tem dado sinais cada vez mais claros de que deseja encerrar o ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021. Apesar disso, a autoridade monetária passou a adotar uma estratégia mais dependente de dados.

Parte do mercado tem migrado para um cenário de uma elevação em agosto. Duas semanas atrás, 25% das estimativas indicavam elevação nos juros em agosto. Na pesquisa atual, esse cenário já é defendido por cerca de 36% das casas.

A leitura de maio do IPCA-15 assustou o mercado em relação à dinâmica de preços. A aceleração dos núcleos ligou o alerta entre economistas quanto a cenários de uma inflação ainda mais persistente à frente.

“O IPCA-15 veio, realmente, com uma qualidade muito ruim, mas muito ruim mesmo. O BC, de fato, já elevou muito os juros, mas temos medo de que ele acabe parando o ciclo com uma situação inflacionária dessa natureza. Isso poderia desancorar ainda mais as expectativas”, aponta o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, cuja projeção aponta a Selic a 13,75%.

O economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, Claudio Ferraz, também se mostra atento à surpresa desfavorável do IPCA-15. “Uma inflação altamente disseminada, com núcleos muito altos, é o tipo de composição que leva você a reavaliar o cenário de curto e médio prazo, impactando projeções mais longas”, observa o profissional.

Ao menos no curto prazo, a atividade econômica tem mostrado resiliência, apesar do aperto das condições monetárias e financeiras observado desde o fim do ano passado. “Caso a demanda se prove mais resiliente que o esperado, o trabalho do BC ficará mais difícil. No entanto, acreditamos que, devido à defasagem da ação da política monetária, de cerca de nove meses, a maior parte do efeito do aperto do juro real será observada no segundo semestre”, afirma a economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Andressa Castro.

Há uma perspectiva de desinflação importante no ano que vem, diante da perspectiva de que as economias globais – e o Brasil, inclusive – irão perder tração em 2023. “O grande tema e o maior desafio do ano de 2022 é a inflação. Acredito que esse tema passará a ser o crescimento em 2023”, diz o economista-chefe do Bradesco BBI, Dalton Gardimam. Ele, assim, projeta estagnação da economia no próximo ano e a inflação em 4,5%.

Fonte: Valor Econômico.