Mesmo com a regulamentação final da oferta de crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil a poucos dias da eleição, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentando atrair o eleitorado mais pobre, os bancos, mesmo os públicos, ainda não confirmam oficialmente que vão oferecer o produto.
As regras divulgadas na terça-feira, 27, pelo Ministério da Cidadania, por meio de portaria, parecem não ter alterado as ressalvas das instituições financeiras ao produto. Ante a reação negativa das empresas, a modalidade, agora, terá um teto para juros, de 3,5% ao mês – superior ao estabelecido para os empréstimos a aposentados e pensionistas do INSS, de 2,14% e para os servidores públicos, de 2,05%.
Bancos privados, como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, já haviam informado que não têm interesse em operar a linha. Agora, entre os públicos, o Banco do Brasil informou nesta terça-feira que, com a publicação da portaria, “está avaliando as regras exigidas por essa regulamentação para verificar a viabilidade de operacionalizar a linha”. Já fontes da Caixa dizem que o banco tende a operar o benefício “de forma consciente”, pois há preocupação com o endividamento das famílias.
Dos bancos que haviam dito que iriam participar da nova linha, o Agi (antigo Agibank) afirmou que ainda avalia os impactos da instrução normativa e verifica se atende aos critérios e políticas do banco e, principalmente, se consegue gerar uma “proposta de valor” para os clientes. “Ainda não temos um prazo definido para confirmar se vamos iniciar ou não o produto”, diz a instituição.
O Pan também disse que está avaliando a participação. “Por hora, o banco não está recebendo propostas para cadastro”.
Daycoval e Mercantil também analisam a operação, enquanto Inter e Alfa divulgaram que não vão participar.
Um banqueiro que atua no segmento diz que o teto de juros tira a atratividade sob a perspectiva de rentabilidade, mas torna a linha mais palatável em termos de propósito. “Operar sem teto algum era enfrentar um risco de imagem muito severo.”
Outro executivo também comenta que a portaria pode trazer mais segurança. “Os juros estão mais compatíveis e a venda só pode ser feita diretamente pela instituição, o que é bom.”
Ainda assim, bancos dizem que estão estudando se vale a pena participar. “Quando não se conhece o risco, os bancos podem modelar no colchão de spread. Ou seja, colocam-se taxas gordas que aceitam desaforo. Aprende-se com análise sazonal de safra e vai ajustando para baixo para caber. É difícil dizer se esse teto de 3,5% torna a linha rentável, porque ninguém sabe ao certo o risco que se corre, não tem análise histórica na mesa”, diz.
O Ministério da Cidadania ainda não divulgou quantos bancos estão homologados.
Fonte: Valor Econômico.