Barter, do inglês, significa “escambo” ou “permuta”. No agronegócio, a operação Barter consiste em uma modalidade de crédito baseada em compra e venda futura da produção rural, qualquer que seja a commodity. O produtor rural “troca” os grãos por insumos, ou seja, adquire os produtos que precisa aplicar na lavoura e paga com a colheita.
O agronegócio depende sistematicamente de financiamento. No Brasil, o crédito rural foi regulamentado por lei em 1965, e passou a ser operado por bancos e instituições de crédito, sob regulação do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Na década de 1990, o agro brasileiro viu nascer um novo modelo de financiamento rural: o Barter. Os primeiros contratos foram no Centro-Oeste do país. Hoje, a operação avança em diversas regiões, ganhando tração com parcerias que se fortalecem a cada safra, e também com tecnologias que contribuem para a segurança do processo.
Como funciona?
O Barter permite que o produtor rural consiga os insumos necessários para a safra sem ter que desembolsar dinheiro na hora da aquisição. E só precisa quitar a compra após a colheita, pagando em grãos.
As empresas que operam Barter, em geral, são fabricantes ou distribuidoras de defensivos agrícolas, fertilizantes, sementes e maquinário agrícola. Nesse tipo de contrato, elas atuam em parceria com empresas de trading de commodities, que comercializam grãos no mercado nacional ou exportam.
Por isso, o mercado classifica o Barter como um financiamento privado, que envolve três partes. Ou seja, o produtor rural obtém os insumos com determinada empresa, que, por sua vez, faz parceria com tradings e compradores de grãos – da indústria de alimentos, por exemplo. Ao final da safra, o produtor entrega a quantidade de sacas acertada em contrato para a compradora ou a trading que faz a comercialização da commodity. E esta repassa o valor referenciado à fornecedora de insumos.
Com isso, pode-se dizer que Barter é uma espécie de “permuta complexa”, bem mais elaborada do que uma simples troca de produtos por grãos, mas que traz facilidades para todos os envolvidos – tanto ao produtor, quanto às empresas.
Quais as vantagens do Barter?
- Travamento de preços
Uma das principais vantagens do Barter é o travamento de preços, independente de variação cambial, oscilação de juros e mudança no preço da commodity negociada.
- Segurança
Dessa forma, é possível fazer uma melhor gestão de riscos, porque o Barter funciona sob a dinâmica de hedge, com o alinhamento antecipado que considera os custos de produção e a receita futura da safra. Isso faz com que a valuation da commodity drible a natureza da imprevisibilidade de mercado.
Existe, portanto, uma garantia de venda por preço acordado com antecedência. Se esse preço cai no momento da entrega do grão, o produtor tem, ainda, retorno financeiro. Se o preço da commodity sobe, ainda assim o produtor se beneficia, pelo fato de quitar as dívidas sem juros e no valor acordado previamente que considerou o preço de mercado à época da assinatura do Barter. Isto é, a operação tem a garantia da venda isenta da flutuação de preços.
- Diversificação do crédito
Além disso, esse mecanismo agiliza e amplia o acesso do produtor rural aos fertilizantes e agroquímicos durante toda a janela de plantio e colheita. Isso porque o Barter pode ser operado por diversos players do agro, como agroindústrias, fabricantes ou revendedoras de insumos, cooperativas, e traders de commodities. Ao mesmo tempo, a operação potencializa as vendas das empresas de insumos, e garante um ágio tanto para ela, quanto para as tradings.
- Personalização e parcerias
Outro atrativo do Barter está na flexibilidade. Os contratos não seguem uma regra específica, mas sim buscam uma negociação que atenda às expectativas de todas as partes. A calculadora passa pela mão de todos. Por consequência, é possível assinalar outra vantagem do Barter: o fortalecimento da rede de parcerias no agro, e o fomento de um ciclo de negócios de longo prazo.
- Armazenamento
A redução dos custos com armazenamento é outra vantagem. Ao ter a garantia da venda antes mesmo da semeadura, o produtor não precisa se preocupar com instalação ou aluguel de silos para estocar toda a safra.
- A moeda do campo
Outra vantagem do Barter é a moeda que baliza o negócio. “A soja é a moeda do produtor na nossa região. O arroz também. São a nossa moeda de troca”, destaca Eric Machado, que opera Barter em uma região alagada na costa litorânea gaúcha, tradicional pelo cultivo do arroz, mas que, nos últimos anos, tem sido destaque também pela soja. “O Barter garante a melhor condição pra qualquer tamanho de propriedade, porque o produtor usa a moeda que ele produz, que ele tem na mão, com a garantia de um bom preço”.
Os preços na operação Barter
O preço acertado no Barter é estipulado antes do fornecimento dos insumos, com base na cotação em bolsa da commodity negociada, e com um ágio para as empresas que fornecem os insumos e comercializam os grãos.
“O produtor, muitas vezes, fica em dúvida de fechar num dia, na expectativa de que o preço aumente no dia seguinte. É normal, faz parte da dinâmica. Este ano, conseguimos travar a maioria dos contratos em R$160 a saca de soja, mas teve contratos de R$153 e R$155. O preço do Barter varia de acordo com o mercado. Hoje, o contrato para 2023 está em R$162”, conta Eric Machado. Ele opera Barter na empresa da família e fechou um Barter para a sua própria lavoura – sem regalias, de acordo com as dinâmicas de mercado. E ficou satisfeito: “travei a metade do custo da minha lavoura em 600 sacas de soja, foi um baita negócio.”
Portanto, o benefício para o produtor, além dos já citados acima, é o fato de poder estipular uma produção mínima. Se o cálculo prevê, por exemplo, que a safra será de 25 a 30 sacas por hectare, o Barter pode ser balizado pelo mínimo. Então, se o produtor colher 25 sacas/hectare, consegue minimamente cumprir o contrato sem levar a dívida para a próxima safra. E se colher mais, cumpre o contrato e ainda contabiliza uma vantagem para o seu negócio.