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Brasileiros acham que o acesso ao crédito está difícil, diz pesquisa

Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que 37% dos brasileiros acreditam que o acesso ao crédito está “mais difícil” e, segundo a confederação, a taxa básica de juros é um dos motivos para isso.

Izis Ferreira, responsável pelo estudo e economista da entidade, diz que o patamar elevado da Selic (atualmente em 13,75%) torna o crédito menos acessível por dois fatores: a elevação do custo do crédito e a maior seletividade das empresas que operam esses recursos.

“Quando o consumidor vai procurar crédito, ele se depara com um custo maior. Mas estamos vendo hoje não só o maior custo do recurso de terceiro, mas também uma maior seletividade com a alta da inadimplência”, aponta.

Izis Ferreira indica ainda que, de acordo com os dados recolhidos pela CNC, o acesso ao crédito está mais difícil “principalmente para os consumidores de menor renda”.

“As empresas que operam crédito estão mais seletivas porque a inadimplência está mais alta — principalmente entre os clientes de menor renda, que são os que estão mais inadimplentes. E é nessa faixa de renda que o problema pode ser mantido com os juros altos”, aponta.

Para o economista-chefe do Banco Master e professor de economia da FGV-SP, Paulo Gala, com a taxa de juros mais alta, o comprometimento da renda das pessoas fica mais elevado.

“As parcelas dos empréstimos subiram, seja para crédito imobiliário, para compra de um carro, seja o que for. Quando o comprometimento dessa renda aumenta, os bancos nem concedem o crédito, porque eles sabem que a probabilidade de você honrar [a dívida] diminui muito”, explica.

Thais Zara, economista-sênior da LCA Consultores, concorda que o encarecimento do juro tende a afetar os mais pobres de maneira mais contundente.

“Naturalmente, quando você tem uma alta da taxa, [as pessoas mais pobres] são aquelas que vão sofrer com a hipótese de a parcela não caber dentro da sua renda”, explica.

Zara indica ainda que o alto patamar da Selic faz com que investimentos em títulos públicos, que rendem com base nessa taxa, se tornem mais atrativos e seguros aos bancos do que outras modalidades de empréstimo.

“Os bancos têm a alternativa de, em vez de emprestar esse dinheiro para as pessoas, emprestar para o governo em taxas mais altas. Considerando os riscos do negócio de fazer empréstimos para as pessoas, é óbvio que você vai acabar elevando as taxas de juros também na ponta final”, comenta.

O levantamento da CNC apontou que para 27,5% dos entrevistados o acesso ao crédito está mais fácil e 21,3% dizem que a situação está igual ao ano passado. Outros 14,2% não sabiam ou não responderam.

Ainda de acordo com a pesquisa, o índice que analisa as compras a prazo caiu 0,8% em março, ficou em 90,5 e se manteve com avaliação negativa (a avaliação é considerada positiva a partir de 100). Além disso, três em cada quatro consumidores consideram que o momento não é favorável para aquisição de bens duráveis.

A CNC aponta que o crédito mais caro e seleto tem levado mais consumidores — principalmente os de menor renda — a repensar compras de longo prazo. O crédito tem se concentrado na modalidade do cartão de crédito, com prazos médios de sete meses, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Intenção de consumo cresce, mas perde fôlego

O indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela CNC, avançou 0,8% em março, descontados os efeitos sazonais. O indicador chegou a 96,7 pontos, maior nível desde março de 2020, superando o registrado no mês passado.

Apesar da tendência de alta, o índice apresenta sinais de desaceleração: o avanço foi o menos expressivo em um ano, e a intenção de consumo segue abaixo da zona de avaliação positiva (100 pontos) desde 2015.

Izis Ferreira destaca que “o acesso ao crédito é um dos principais indicadores que vem desacelerando a intenção de consumo das famílias de forma geral”.

Responsável pelo estudo, ela destaca ainda que a alta do indicador vem sendo preservada, em grande parte, por famílias de maior renda. “Para as de maior renda, o otimismo avançou de forma mais expressiva neste mês de março. O consumidor de alta renda que fez com que o indicador crescesse mais”.

Fonte: CNN Brasil.