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Como o mercado avaliou o primeiro turno

As eleições presidenciais de 2022 vão ser decididas em segundo turno. Com as urnas apuradas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) largou na frente com 48,43% dos votos, frente a 43,20% do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL).

Às vésperas do primeiro turno, o Datafolha indicava Lula com 50% dos votos válidos e Bolsonaro com 36%. O Ipec (ex-Ibope) mostrava inclusive uma possibilidade de vitória petista já no primeiro turno, com o ex-presidente marcando 51% das intenções de voto e Bolsonaro, 37%.

O resultado, porém, trouxe um cenário mais amargo para a campanha petista, com o bolsonarismo ganhando terreno não só na disputa presidencial, mas no Congresso e no Senado. “O resultado mostrou que as pesquisas tradicionais estão totalmente fora da realidade”, diz Felipe Simões, economista e diretor da WIT Asset.

A decisão em segundo turno já era o cenário-base no mercado financeiro, mas, segundo o diretor da WIT, não dá para cravar como a bolsa de valores vai reagir ao resultado na segunda-feira (3). “Talvez tenha uma chance de reprecificação, já que as chances de primeiro turno foram anuladas. Mas, ao mesmo tempo, reverter 3% ou 4% em um mês não é uma tarefa fácil”, destaca Simões. “Então, acredito que o mercado deva reagir conforme a toada, nada muito diferente do que já era esperado”.

Até aqui, as eleições surpreenderam pela baixa volatilidade que causou na bolsa. Com problemas macroeconômicos de inflação e alta nos juros causando uma aversão global a risco, a disputa política acabou ficando em segundo plano. Em outubro, mesmo com a polarização mais acirrada do que o esperado entre os candidatos, a tendência é que o mercado continue reagindo bem, diz Matheud Pizzani, economista da CM Capital.

“Em termos de mercado, apesar da polarização sugerir uma volatilidade muito elevada, a nossa expectativa é que o mercado reaja bem a esse resultado, tendo em vista que o atual presidente se mostrou extremamente competitivo”, afirma.

Como mostramos nesta reportagem, a Faria Lima prefere Bolsonaro, com políticas mais pró-mercado e uma expectativa de maior austeridade fiscal. Por isso, as porcentagens de voto alcançadas pelo presidente podem animar um mercado que já trabalhava com a possibilidade de vitória petista.

“O plano econômico seria marcado principalmente por privatizações e concessões, e uma busca maior por um equilíbrio orçamentário, tendo em vista a situação fiscal atual do país que é muito delicada. Uma possível vitória de Lula no primeiro turno preocupava muito o mercado tendo em vista a incerteza que ainda cerca o plano econômico do PT”, explica Pizzani.

Veja o que dizem especialistas do mercado sobre o 2º turno:

Pedro Patrão, economista e sócio da HCI invest

Independentemente do resultado, a agenda fiscal será fundamental daqui para frente. Não há como falar do mercado brasileiro em outubro sem falar das eleições.

Neste ano, diferente de eleições anteriores, não observamos níveis elevados de volatilidade no mercado brasileiro, com a bolsa reagindo mais via fatores externos do que pelo tema político. No entanto, ainda não descartamos maior volatilidade até o segundo turno.

A principal preocupação dos investidores para o próximo governo é a agenda fiscal, a trajetória dos gastos públicos e a dívida pública do Brasil. Os dois principais candidatos fizeram campanhas por mais gastos nas contas públicas e o presidente eleito terá esse desafio à frente, de como equilibrar as contas públicas e a trajetória futura da dívida.

As principais discussões no período pós-eleitoral serão em torno da reformulação das âncoras fiscais no Brasil. Ainda assim, achamos que a passagem do “evento eleições” pode trazer uma descompressão de riscos no mercado. Com o caminho mais claro, o apetite a risco pode voltar e isso deve sustentar ainda mais o desempenho superior do Ibovespa em relação aos demais mercados.

Para semana que vem, o destaque internacional será a política monetária, com discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e dados de emprego de setembro que influenciam a tomada de decisão de juros. No Brasil, o destaque será a repercussão das eleições e possíveis realizações sobre a política econômica futura.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos

Com essa diferença muito apertada, uma parte do mercado vai colocar na conta que o Bolsonaro tem grande chance de vencer, mas essa é uma disputa bem aberta. Entendo que vai ser mais um mês de volatilidade grande. Talvez, em novembro e dezembro, os mercados deslanchem um pouco mais.

Os destaques de setembro foram as ações de saúde e construção civil por conta das falas do ex-presidente Lula. Para outubro, a ideia é que os dois setores fiquem em alta novamente. Com chances de vitória de Bolsonaro, talvez as estatais entre em destaque, com Banco do Brasil+7,63% e Petrobras, principalmente. Talvez o agronegócio e de frigoríficos se beneficiem, principalmente depois daquela fala do Lula de que restringiria a exportação de carne.

Para o segundo turno, os dois (Lula e Bolsonaro) precisam descer um pouco de seus palanques e conversar com eleitor que não é deles. Isso significa ir para o centro e adotar um discurso um pouco mais ameno, menos extremo.

Bolsonaro, na questão ambiental, vai ter que dar mais acenos. O Lula, na questão econômica ainda muito indefinida, vai ter que começar a dar mais pistas do que faria e também tirar algumas das polêmicas de mexer nas estatais, de não avançar com algumas reformas ou desfazer reformas do ex-presidente Michel Temer.

Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed

Um ponto positivo para a direita até agora é que o governo atual conseguiu eleger vários senadores e está liderando em vários estados nos cargos de governador. Se Lula ganhar, terá uma oposição ferrenha no Congresso. Se Bolsonaro ganhar, tende a conseguir governar com menos dificuldade.

Lula levou no Nordeste com folga e foi essa a região responsável pela virada no placar. Aliados do Bolsonaro levaram com muito mais folga do que ele em estados vencedores para o governo. Isso mostra que ainda há uma rejeição forte ao Bolsonaro, que neste segundo turno será forçado a adotar discursos mais amenos, talvez até com alguma autocrítica.

O mercado deve reagir com bastante volatilidade a cada pesquisa e debate deste segundo turno e ficar de olho nos próximos passos de Lula. Não sendo eleito no primeiro turno, o ex-presidente precisa conquistar votos. Para isso, deverá revelar mais pontos do seu plano de governo, até então quase que secreto, e nomear um possível ministro da Economia. São esses os grandes medos do mercado até a votação final: a incerteza e o desconhecimento da equipe de ministros de Lula.

Matheud Pizzani, economista da CM Capital

O principal destaque está no fato de que teremos uma disputa de segundo turno. Outro fato importante foi a votação do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que pontuou acima da casa dos 40%.

Em termos de mercado, apesar da polarização sugerir uma volatilidade muito elevada, a nossa expectativa é que o mercado reaja bem a esse resultado, tendo em vista que o atual presidente se mostrou extremamente competitivo, inclusive tem uma boa chance de vitória no segundo turno dado a sua pontuação nessa nessa primeira parte da disputa.

O mercado reagiria bem nesse caso por já conhecer a política econômica do presidente, já conhecer o seu ministro da Economia e também pela expectativa de que um segundo mandato seria apenas uma continuação do que já vinha sendo feito até aqui.

A possibilidade de vitória do presidente Bolsonaro tende a gerar algum otimismo para o mercado. Isso tende, inclusive, a favorecer a abertura da bolsa amanhã, que pode abrir no positivo.

Outro fato importante diz respeito à curva de juros, já que segue um cenário muito parecido com a Bolsa. Uma vitória do Bolsonaro poderia fazer com que a curva de juros mantivesse um padrão muito parecido com o que a gente vem observando hoje, enquanto uma vitória do Lula, tendo em vista essa preocupação com o lado fiscal, pode acabar gerando um deslocamento para cima da curva, com um mercado precificando uma taxa de juros mais elevada.

Felipe Simões, economista e diretor da WIT Asset

“O resultado mostrou que as pesquisas tradicionais estão totalmente fora da realidade. Então, realmente uma vitória no primeiro turno não aconteceu. Mas, ao mesmo tempo, uma liderança de 3%, 4% não é algo fácil de reverter. Então, é difícil saber como o mercado vai reagir amanhã.

Eu acredito que reaja de maneira neutra, conforme o esperado. Conforme o que vinha sendo previsto, maior probabilidade de o Lula vencer, porque não é tão fácil reverter essa vantagem. Talvez tenha uma chance de reprecificação, pelas chances de primeiro turno terem sido anuladas.

Mas ao mesmo tempo, reverter 3% ou 4% em um mês não é uma tarefa fácil. Então, acredito que o mercado deva reagir conforme a toada, nada muito diferente do que era esperado.

Talvez uma reação um pouco diferente na Sabesp +16,94%, no Estado de São Paulo. O Datafolha mostrava o Haddad (Fernando Haddad, candidato do PT ao governo paulista) liderando com uma folga muito grande e o Tarcísio (Tarcísio de Freitas, do Republicanos) acabou tendo mais de 40% dos votos. Eu acho que a única reprecificação mais brusca vai ser nela. Não vejo nada de muito diferente acontecendo com outras ações.”

Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos

“Chegamos ao fim da apuração de votos e, para surpresa de todos, teremos segundo turno. Surpresa pelo fato dos institutos de pesquisas apontarem a vitória do ex-presidente Lula já no primeiro turno. Até a próxima votação, o mercado deve seguir em compasso de espera e expectativa.

O fato é que tanto um quanto o outro terão um desafio muito grande pela frente. O mercado ainda vê com cautela o quadro fiscal, uma vez que existe a intenção de flexibilizar as regras fiscais no país e substituir o teto de gastos por não arcabouço fiscal mais permissivo tanto do presidente Bolsonaro, quanto do ex-presidente Lula.

Em resumo, em termos econômicos, as eleições deste ano não são tão binárias quanto foram em outras oportunidades, visto que os dois candidatos teriam que enfrentar desafios fiscais e políticos similares.”

Mario Goulart, analista de investimentos

“Bolsonaro se elegeu há quatro anos prometendo muitas reformas. Ele passou os últimos dois anos se desculpando por não ter encaminhado elas em função da pandemia. Agora ele precisa fazer isso acontecer, principalmente por ter um Congresso favorável. Não sei se ele vai ganhar ou não o segundo turno, tem muito jogo pela frente.

Outro elemento importante nessa eleição é que o PSDB deixou de existir. O partido não existe mais como força política no Brasil. É uma força morta.”

Fonte: Ei Investidor.