A eleição que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva, PT, como presidente da república no domingo, 30, movimentou o mercado financeiro nesta segunda-feira, 31. A intensidade do movimento, todavia, dependerá tanto dos sinais sobre a política fiscal do futuro governo quanto da reação de Jair Bolsonaro à derrota, já que o atual presidente ainda não se manifestou publicamente.
Ainda que a dinâmica dos mercados nos próximos dias deva ser influenciada por esses movimentos políticos, o Congresso eleito considerado mais à direita deve minimizar reações mais bruscas.
Segundo Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs, a “reação dos mercados nesta segunda-feira pode ser levemente negativa, mas a direção dos ativos provavelmente será uma função dos sinais e mensagens enviados por ambos os candidatos”.
O mercado observa indicações de gabinete de Lula, sobretudo Ministério da Fazenda e o tamanho da renúncia do teto de gastos para acomodar promessas de campanha
Segundo Conrado Rocha, sócio e gestor da Polo Capital, o mercado já antecipou parte da preocupação com um governo Lula nos últimos dias, portanto “não surpreenderia” se ativos não caíssem tanto “ou até nem caíssem”
Brendan McKenna, estrategista de câmbio e economista para mercados emergentes do Wells Fargo, acredita que o real vai se desvalorizar.
“Ainda há incertezas sobre os objetivos da política fiscal de Lula, bem como sobre quem serão seus principais assessores.”
Para Bruno Di Giacomo, CIO da Nero Capital, as estatais devem ser as ações que mais vão sofrer com o resultado das eleições.
“Mas, pensando em médio prazo, dentro dos cenários possíveis de vitória da esquerda, este é o cenário em que se tem governabilidade mais alinhada ao centro e à direita. Então, em termos de médio prazo, os mercados têm bastante a se desenvolver”, diz.
Wilson Ferrarezi, economista para Brasil da TS Lombard, afirmou que o “foco dos mercados estará no time econômico de Lula, mas há “sinais centristas” de Lula e no Congresso eleito:
“Não me surpreenderia em ver um sell-off (movimento de venda de ativos) nesta segunda-feira (ou até nos próximos dias) enquanto uma sinalização mais clara a esse respeito não vier. Mas nosso cenário base é que deve, sim, vir uma sinalização positiva nesse sentido, o que abre espaço para uma recuperação nos preços dos ativos.”
Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, destacou que “além de discursos de Lula e Bolsonaro, mercado observa reação dos investidores estrangeiros”.
“Eles compraram a semana toda. Se acontecer alguma sinalização estranha nos discursos, podem sair e o mercado não vai achar o chão por alguns dias.”
Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas Asset Management, destacou que o ” dólar, que acaba sempre sendo um refúgio mais fácil e mais rápido, deve ficar pressionado nesta segunda-feira, ao menos na abertura”.
“Juro longo em tese deve subir um pouco, pois reflete movimento de aversão a risco. Afinal de contas ainda há uma incerteza sobre a política fiscal no ar.”
Fonte: O Globo.