A inflação medida entre as famílias chefiadas por pessoas com mais de 50 anos é maior do que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo cálculo feito pelo economista Arnaldo Lima, ex-secretário-Adjunto de Política Econômica do antigo Ministério da Fazenda e que atualmente é diretor-executivo do Instituto de Longevidade MAG.
Em setembro, o IPCA chegou a 7,2% no acumulado de 12 meses até setembro e apurou uma deflação de 0,29% no mês passado. A situação foi um pouco diferente quando se avalia o impacto para chefes de família com mais de 50 anos. Neste caso, a inflação acumulada foi de 7,8% e no mês a deflação foi de 0,22%.
Lima resolveu fazer uma análise específica sobre o impacto da inflação nessa faixa etária porque ela representa parcela cada vez maior da população brasileira. Enquanto a população com menos de 50 anos de idade cresceu 1,2% entre março de 2022 e março de 2012, a com mais de 50 cresceu 36,2%, de acordo com a Pnad Contínua. Para calcular o “IPCA 50+”, o economista usou a variação dos preços dos mesmos subitens do IPCA ponderados pelos pesos da cesta de consumo das famílias chefiadas por pessoas com 50 anos ou mais.
“Os 50+ estão muito mais ativos do mercado de trabalho do que em décadas anteriores e seus familiares ainda são muito dependentes financeiramente desses chefes de família, o que exigirá mais poupança para o futuro e a utilização de um índice de inflação mais aderente para fins de planejamento previdenciário, até porque o tempo mínimo de contribuição exigido para fins de aposentadoria no RGPS [Regime Geral de Previdência Social], respeitada a idade mínima, são 15 anos, para mulheres e homens que entraram no mercado de trabalho antes da aprovação da última Reforma da Previdência”, explicou o economista.
Para ele, foi possível mostrar que as famílias chefiadas por pessoas com mais de 50 anos possuem hábitos de consumo distintos. “Dessa forma, o impacto da inflação sobre sua cesta de consumo também é distinta do impacto observado sobre a população total. Por exemplo, esta parcela da população está cada vez mais ativa no mercado de trabalho”, explicou.
Lima ressaltou que existem vários índices de preços específicos para acompanhar o impacto dos preços sobre as famílias compostas por pessoas com 60 anos ou mais. Por exemplo, o IPC-3i, divulgado pela FGV, se baseia no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Índices Gerais de Preços (IGP) da mesma instituição. O filtro em relação ao IPC dos IGP-M e IGP-DI são famílias com ao menos metade dos componentes com idade igual ou superior a 60 anos. A Fipe também começou a divulgar o IPC 60+, baseado no IPC, a partir de jul/21, também focada na população com idade superior a 60 anos.
Ele ponderou, no entanto, que a família chefiada por alguém com mais de 50 anos que continua no mercado de trabalho sente o impacto da inflação também de forma diferente do que a população com mais de 60 anos. Itens como transportes, vestuário, despesas pessoais e comunicação têm peso maior no índice das famílias chefiadas por pessoas com mais de 50 anos. Já para quem tem mais de 60 anos, a influência maior é do grupo de alimentos e habitação.
Fonte: Valor Econômico.