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Investidor reforça aposta em queda de ações locais

O forte pessimismo do mercado em relação aos ativos domésticos nas últimas semanas, dadas as crescentes incertezas políticas e fiscais, fez com que os investidores passassem a apostar, com uma magnitude inédita, que diversas ações da bolsa local devem sofrer quedas adicionais à frente.

Levantamento do TradeMap concedido ao Valor mostra que, ao fim do pregão de ontem, o estoque de ações alugadas na B3  – quando o investidor paga uma taxa ao dono do papel e realiza sua venda a descoberto, apostando na queda – representava R$ 119 bilhões em dezembro, ou 3,07% do valor de mercado da bolsa, o maior número da série histórica.

No entanto, como explica João Luiz Braga, sócio e analista da Encore Asset Management, a partir do momento em que existe uma postura consensual do mercado nesse sentido, qualquer movimento de alta nos ativos pode desencadear uma reação técnica que amplifica os ganhos, como ocorreu nas últimas duas sessões.

“Quando o mercado chega num nível de pessimismo extremo, temos esse efeito de ‘barril de pólvora’ visto nos últimos dias. Isso porque qualquer notícia minimamente positiva faz com que investidores corram para desmontar suas posições vendidas e que haja uma melhora aguda na performance desses ativos”, afirma.

Já uma hipótese mais pessimista, aventada por um gestor em condição de anonimato, é que alguns investidores estrangeiros – o grupo aportou R$ 92,2 bilhões no segmento secundário da bolsa em 2022, até o último dia 16 – podem estar demandando parte das suas ações alugadas para vender. Neste caso, quem está vendido a descoberto tem que recomprar a ação para devolver o aluguel. O resultado, pelo menos em uma janela de curto prazo, é a recuperação não fundamentada de alguns ativos.

Na sessão de ontem, após a notícia de um possível esvaziamento da PEC da Transição, o Ibovespa registrou forte ganho de 2,03%, aos 106.864 pontos, voltando a avançar 1,95% em 2022. Se somadas as sessões de segunda e terça, o ganho do referencial local é de 3,90%.

Os papéis com melhor performance foram aqueles sensíveis à economia local e à curva de juros que, apesar do seu “valuation amassado” – ou seja, com o preço da ação descontado em relação ao seu valor justo -, seguem com dificuldades contratadas, já que houve piora razoável nas expectativas de inflação e, consequentemente, para os juros. Apenas nos últimos dois pregões, Via ON subiu 28,80%, Americanas ON, 19,18%, e Magazine Luiza ON avançou 18,99%.

“Não parece ser um movimento fundamentado, principalmente no caso dos papéis mais sensíveis ao cenário macro local, já que houve uma piora relevante na visão do mercado sobre como o consumo irá se comportar. Será preciso um nível de definição maior para que o mercado possa incorporar as mudanças nos preços de forma estrutural”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Em relatório quinzenal, a executiva e a equipe de análise da XP mostraram que, na primeira quinzena de dezembro, os setores com maior “short interest” (percentual de ações de uma empresa que estão alugadas e vendidas a descoberto) eram construção civil, com 8,9%, varejo, com 6,9%, e educação, com 6,8%. Entre as empresas, Via ON tinha 16,1% de short interest até o dia 16 de dezembro. Li aponta, adicionalmente, que o posicionamento leve do mercado em ações e a queda no volume de negócios característica das últimas semanas do ano também ajudam a destravar movimentos como este.

Braga, por sua vez, afirma que, a despeito da tendência recente, não é claro o que ocorrerá com o mercado à frente. “As questões que discutimos nas últimas semanas fizeram a bolsa cair e agora estão ajudando. Jogar para frente é difícil, já que o curto prazo mostra desafios, mas não acho que seja óbvio. A política é incerta e o mercado está certo e o mercado está certo em se preocupar com o que vem sendo apresentado. No entanto, existem outros fatores que importam em uma decisão de investimento. As ações do mercado local seguem, em sua grande maioria, baratas, ou seja, fatores micro também podem se tornar gatilhos para movimentos futuros”, diz.

Fonte: Valor Econômico e Inteligência Financeira.