As mudanças ocorridas no mercado de financiamentos rurais no Brasil nos últimos anos ampliaram o leque de opções que os produtores têm à disposição na hora de decidir onde e como buscar crédito para custear a safra ou investir na propriedade. Mesmo assim, as prioridades para escolher quem será o financiador da atividade continuam as mesmas: menor taxa de juros, menos burocracia no atendimento e maior rapidez na liberação do dinheiro.
Há “dores”, porém, que ainda podem ser curadas para melhorar a experiência dos produtores e abrir novas oportunidades para os agentes financeiros nesse processo. Uma pesquisa inédita realizada pela McKinsey com 100 agricultores brasileiros apontou algumas lacunas deixadas pelos financiadores no relacionamento com o público do campo, como a baixa oferta de produtos para gerenciamento de riscos na atividade agropecuária (seguros, hedges e mecanismos para travar preços), a falta de consultorias técnicas e de informações do mercado e a indisponibilidade de ferramentas de gestão.
“O agricultor quer ter uma experiência melhor. Ele reclama da taxa, da burocracia, do prazo para acessar o recurso. Mas existem produtos e serviços que ele gostaria de ter e hoje não são oferecidos”, afirma Mikael Djanian, sócio da McKinsey.
Segundo a consultoria, há um interesse “latente” dos agricultores por produtos e serviços que vão além do recurso financeiro. Djanian diz que existem falhas de comunicação na oferta desses itens, como o uso de linguagem técnica pelos bancos ao oferecer opções de hedge que não “facilita” a compreensão pelo produtor.
“É uma oportunidade no agro oferecer produtos e serviços que ajudem o agricultor a gerenciar melhor seus riscos. No caso das distribuidoras, quando faz um barter, incluir um derivativo, mas explicado de forma mais simples, na linguagem do produtor”, observa Djanian.
Cerca de 45% dos produtores entrevistados não costumam travar os preços para sua produção. “Acho que ajudaria a reduzir de forma sistêmica o risco no agronegócio ao invés de o produtor ficar pensando que consegue prever futuro e apostar na alta do preço do grão”, completa Djanian. Ele aponta ainda que o seguro agrícola, um produto quase de “prateleira”, também não chega à massa dos agricultores.
A pesquisa da McKinsey mostrou que os produtores valorizam o relacionamento com a instituição financeira e ainda prezam pelo contato pessoal, físico e especializado para contratar seus financiamentos.
Os gerentes dos bancos são os principais influenciadores na tomada de decisão de 62% dos produtores ouvidos. A maioria dos entrevistados (74%) conhecem as cooperativas de crédito e os bancos, mas só 4% conhecem as agfintechs.
Para Marina Mansur, sócia da McKinsey, as barreiras entre as diferentes indústrias que atuam no agronegócio estão se quebrando e os segmentos se fundindo. O caminho natural, diz ela, é a oferta de um pacote de soluções em um mesmo agente.
“Os produtores prezam muito pelo relacionamento. E isso deve continuar, mas adicionando mais coisas. Ao invés de um produto em cada lugar, ele pode ter a junção disso tudo em um só player”, afirma.
Esse tipo de movimento, diz ela, pode ser eficiente para suprir o déficit de produtos e serviços oferecidos aos produtores e manter o fluxo de financiamentos.
Segundo a sócia da McKinsey, o mercado de crédito rural continua concentrado no Brasil em termos de carteiras, mas há diversificações entre os segmentos atendidos. Cooperativas que atuavam com pequenos produtores estão tentando acessar médios e grandes. Bancos que mantinham o foco nos grupos empresariais estão indo na direção de outros públicos.
“Passamos muitos anos convivendo com os mesmos produtos de crédito, a mesma papelada, o mesmo processo, e agora estamos vendo o mercado mudar. Temos cada vez mais novos produtos criativos, sejam financeiros, relacionados a seguro, seja para gestão da fazenda. Tem esse ecossistema mais amplo”, salienta.
Fonte: Globo Rural.