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Queda de juros põe mercado de CRI e CRA em evidência

Na medida em que os juros caem, os investidores que querem garantir boa rentabilidade precisam sair da zona de conforto em busca de ativos financeiros que remunerem melhor que o “arroz com feijão” da renda fixa, como Tesouro Direto e CDBs de alta liquidez. Para quem tem apetite a risco, existem opções, com um ganho extra, como as debêntures, os títulos bancários como LCI e LCA (Letra de Crédito Imobiliário e Letra de Crédito do Agronegócio) e também os títulos securitizados, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

Esses certificados emitidos por securitizadoras contam com isenção de imposto de renda, mas possuem baixa liquidez, vencimento de médio a longo prazo e não contam com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos, o FGC, que cobre investimentos até R$ 250 mil, no caso de quebra da instituição emissora. Para quem não está familiarizado com os CRIs e CRAs, é importante saber que eles são uma cesta de recebíveis, que nada mais é que o direito de receber a quitação de dívidas no futuro. A remuneração pode ser prefixada, entretanto, é mais fácil de encontrar produtos pós-fixados, atrelados ao CDI ou ao índice de preços (IPCA).

Assim como o mercado de crédito privado como um todo, o mercado de CRIs e CRAs também teve um ano difícil. Papéis de dívida privada sofreram nos primeiros meses de 2023 com o advento do escândalo contábil da Americanas e dúvidas em torno da capacidade da Light e outras empresas, como CVC e Marisa, de honrar suas dívidas. Investidores que já tinham os títulos na carteira, se assustaram com a desvalorização que esses papéis tiveram. E para as empresas que queriam captar recursos no mercado financeiro, os juros estavam muito altos, tornando a operação bem cara (e arriscada).

Mas, de acordo com especialistas, este cenário já vem mudando e os próximos meses prometem ser de redenção. E o melhor é que, com o estresse visto recentemente, os ganhos ainda estão historicamente interessantes para os investidores
Segundo Maria Levorin, diretora de Distribuição e Suitability da Multiplica Crédito e Investimento, a perspectiva é de um aumento nos volumes das ofertas até o fim deste segundo semestre, tanto para CRAs quanto para CRIs.

“Com a alteração na tributação dos fundos exclusivos, produtos incentivados como CRAs e CRIs ganharão maior demanda. Eles se tornarão o foco das atividades relacionadas a operações de crédito. Além dos benefícios fiscais, esses produtos oferecem taxas atrativas. Geralmente, são híbridos, atrelados ao CDI ou ao IPCA, o que beneficia os investidores diante do cenário de queda da Selic”, diz.

O processo de redução dos juros, que já passam pelo segundo corte e deve levar a taxa dos atuais 12,75% para 11,75% até o fim do ano, tende a ajudar o mercado de CRIs e CRAs de duas maneiras principais. A primeira é que torna a dívida das empresas menos cara, estimulando a busca por emissões. Em segundo lugar, há mais investidores interessados no produto.

Segundo Bruno Rebellato, responsável pela área de crédito da Alianza Investimentos, a queda de juros tende a ser muito benéfica para o setor de certificado de recebíveis, porque melhora a qualidade das empresas. Ele lembra que, além das incorporadoras e construtoras que recorrem aos CRIs para concluir suas obras, os fundos imobiliários também buscam esses ativos para montar suas carteiras.

Mercado imobiliário

Em um cenário de Selic em ciclo de redução, os fundos imobiliários costumam se tornar mais atrativos, justamente por oferecer aquele tempero a mais nas carteiras dos investidores. Ou seja, a procura costuma aumentar em momentos assim.
O executivo lembra ainda que os fundos imobiliários de papel são um bom modo de se expor aos CRIs, com diversificação e curadoria profissional. E claro, com a possibilidade de ser remunerado mensal, trimestral ou semestralmente, com a distribuição de dividendos, que esses fundos são obrigados, por lei, a fazer.

“Com essa queda de juros, os fundos imobiliários vão poder comprar mais operações e ter carteiras mais saudáveis. A queda é benéfica para todo mundo, contanto que seja feita de uma maneira correta. É ótima [a queda da Selic] para o setor de CRIs”, afirma. Rebellato nota que o mercado de CRIs e CRAs já vem apresentando uma melhora desde maio, passado o olho do furacão da crise de desconfiança no crédito privado desencadeada pela Americanas. A tendência é de que essa recuperação se consolide.

Ele explica que os resgates recordes no saldo da poupança são outro fator que fazem com que o mercado de CRIs se torne mais interessante. Com esses recursos da poupança secando, cada vez mais incorporadoras buscam o mercado de capitais por meio de CRIs, já que os bancos oferecem menos recursos em crédito para elas. Alternativamente, essas empresas se alavancam no mercado de capitais.

De acordo com Sarah Balestero, diretora de Securitização do Fator, a procura para emitir CRIs cresceu assim que houve o primeiro corte da Selic. “Se continuar de fato cortando juros, a tendência é aumentar a busca. Até porque, para incorporação só faz sentido emitir CRI com o corte de juros, porque o mercado imobiliário melhora em ambiente de juros baixos, com menor custo do financiamento de unidades”, afirma.
Os ajustes no Minha Casa Minha Vida e o novo Plano Diretor de São Paulo também contribuem para um aquecimento do setor imobiliário que gere alta na demanda por emissão de CRIs, avalia Nelson Campos Jr, diretor executivo, também do Fator.
“As construtoras estão fazendo follow-on (ofertas subsequentes) e ano que vem devem lançar novos empreendimentos. O Plano Diretor tem aumentado em até 20% do VGV (Valor Geral de Vendas) dos projetos com alteração. As medidas vieram para melhorar a margem dos incorporadores”, afirma.

Agro

A diretora de Distribuição e Suitability da Multiplica, Maria Levorin, explica ainda que, embora o mercado esteja mais consolidado em relação aos CRIs, o potencial dos CRAs será notável nos próximos meses. “O crescimento do setor agrícola se apresenta como um grande diferencial, uma vez que a demanda por financiamento está em ascensão para acompanhar o desenvolvimento de nossa produção”, afirma. A popularização dos Fiagros, que são a versão agro dos fundos imobiliários, também deve absorver boa parte da oferta por CRAs.

O BTG tem investido no mercado de CRAs, distribuindo o produto para captar recursos para a Engelhart, uma empresa do grupo voltada para commodities agrícolas. Este ano, o banco fez a maior emissão de CRA da história, que contou com mais de 30 mil investidores, e já planeja uma nova oferta bilionária por meio do produto, com remunerações que vão de 109% do CDI a 100% do CDI + 1%, na chamada remuneração mista, com uma mistura de prefixado e pós-fixado.

Fonte: Valor Investe.