Com juros elevados e os preços altos dos carros — uma pesquisa da consultoria JATO Dynamics apontou que, em cinco anos, o valor médio subiu 90% —, as motos têm sido mais procuradas pelos consumidores. Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam que, de janeiro a abril, quase 464 mil novos carros foram vendidos no país, volume 3% menor do que as 478 mil motocicletas comercializadas. Quando comparado com o mesmo período do ano passado, a diferença é ainda maior: em 12 meses, a procura por novos carros subiu 13%, enquanto as vendas de motos saltaram 25%.
Seja por quem opta pela moto como meio de transporte ou por quem a tem como ferramenta de trabalho, o veículo foi o modelo com mais emplacamentos no mês passado. Ao todo, 120,9 mil motocicletas novas foram vendidas, patamar ligeiramente acima dos 118,1 mil carros novos comercializados.
— Mesmo com a seletividade de crédito, a demanda segue alta, já que se trata de um veículo essencial para a logística urbana das cidades e para qual muitos motoristas de automóveis e comerciais leves têm migrado, seja pela facilidade de locomoção ou por questões relacionadas aos valores gastos em aquisição e combustíveis, por exemplo — analisa Andreta Jr., presidente da entidade.
Na hora de pagar, a procura pelo financiamento também tem aumentado. Números apurados pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3) mostram que o crédito auto — que inclui também carros e veículos comerciais leves — subiu 11,6% entre março de 2022 e de 2023. O aumento é mais acentuado entre os veículos novos (24,6%), que representam 34% das operações.
Quando se observa especificamente o crédito Direto ao Consumidor (CDC), o financiamento tradicional, as transações subiram 9,4% em um ano, enquanto os consórcios cresceram 24,5%.
Para Vitor Bonvino, presidente para a Região Sudeste da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), diferentes fatores explicam o aumento:
— Tradicionalmente, o consórcio tem uma participação importante nas vendas de motos, mas pesa também uma procura maior principalmente por quem busca a moto como ferramenta de trabalho, como entregadores e mototaxistas.
Consórcio lidera procura
Já Paulo Henrique Pêgas, professor de Ciências Contábeis do Ibmec-RJ, atribui a alta das vendas de motocicletas via consórcio também ao cenário de alta nas taxas de juros. A taxa Selic está estacionada em 13,75% ao ano desde setembro de 2022, maior patamar desde novembro de 2016.
— No consórcio a mensalidade tende a ser mais baixa, porque o prazo de pagamento é mais longo, o que faz a prestação cair um pouco e caber com um pouco mais de conforto no orçamento da família — avalia.
Ele afirma, porém, que cada caso é um caso: na hora de cogitar a compra da moto (ou outro bem), é preciso analisar as finanças e entender quais são as necessidades do consumidor ou da família:
– A diferença financeira, no fim, não é tão grande. A grande distinção é a necessidade da compra e o encaixe da parcela, seja do consórcio ou do financiamento, no orçamento mensal — explica Pêgas: – Tudo vai depender da situação de cada um. Às vezes, para quem precisa da moto como instrumento de trabalho, se a parcela couber no orçamento e se há urgência, o financiamento sem dúvida é o melhor caminho. Mas, se há mais tempo para adquirir o bem e menos espaço nas contas, o consórcio pode ser uma opção mais viável.